Lula ou Bolsonaro?

Muita gente tem falado do que vai acontecer com o Brasil caso o presidente Jair Bolsonaro (PL) vença às eleições. O consenso, de quem estuda e entende sobre política, é que sim: a democracia está em jogo por aqui. Os bolsonaristas estão muito bem articulados e conseguiram dominar o Senado – e isso é perigosíssimo porque eles podem fazer três coisas: mudar a Constituição, tocar o impeachment e mexer nas cadeiras do Supremo Tribunal Federal (STF). Os caras mexeram os pauzinhos e conseguiram comandar o Senado. 

Muita gente ficou chocada (inclusive eu) com a quantidade gigante de votos que Bolsonaro teve. Confesso que, com tudo que aconteceu durante a pandemia e o caos econômico do país, eu acreditava que o presidente teria reduzido sua base e se limitava a nem 30% da população. Mas errei, assim como quase todo mundo.

E explico o motivo. Para mim, ficou claro que o brasileiro vota a partir de suas crenças pessoas, morais e religiosas. Esse é o fato. A gestão da pandemia e todo o problema financeiro não fez nem cócegas para o brasileiro não votar em Bolsonaro. Isso aconteceu porque o cidadão e a cidadã votam a partir do que se fala sobre religião, fé e costumes. Soma-se a isso a questão de Lula e PT: uma fatia considerável da população simplesmente esqueceu quem é Bolsonaro e tudo que ele fez porque, do outro lado, havia o ex-presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT). Contra eles, quase metade do país votou em Bolsonaro. 

A eleição mostrou que o anti-petismo e o anti-lulismo são o que ditam o ritmo. Ela mostrou também que os governos petistas foram um ponto fora da curva dentro de um país conservador e reacionário. Sim, o Brasil é isso mesmo e tudo que vem junto: racista, homofóbico, machista, misógeno, violento e por ai vai. Criou-se, durante décadas, a imagem de um país plural, acolhedor, feliz, sorridente e que está sempre aberto para todo mundo. Mas isso é uma ilusão. Quando a porta foi levemente aberta, a verdadeira cara do Brasil foi mostrada – e ela está aí.

Acredito na vitória de Lula, mas acho que o buraco é beeeem mais embaixo. A esquerda precisa se renovar e conversar com o povo mesmo – e não apenas com a Academia e os artistas. A extrema-direita fala com quem precisa ouvir, está em todos os cantos e usa a pauta da moral e costumes pra angariar cada vez mais pessoas. Acho sintomático quando os evangélicos se chocam mais com a ida de Bolsonaro à Maçonaria do que com tudo que ele fez na pandemia. Acho simbólico quando o ex-presidente Lula tem que explicar e divulgar um post falando que não fez pacto com o diabo. Isso diz demais!

E acreditem: a extrema-direita saiu do bueiro e não volta tão cedo. Ela vai ficar aqui por décadas. E a tendência é global: ela ganhou na Itália e vem crescendo na Argentina e no Peru, por exemplo. O negócio está bem complicado.

Minha foto na manifestação em apoio ao presidente Bolsonaro na Av. Paulista em maio de 2019

🇦🇷 Números de Javier Milei, político da extrema-direita argentina, preocupa o governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner. (Clarín)

🇨🇱 Gabriel Boric: “As razões profundas do mal-estar chileno ainda estão presentes”.
(El País)

🇺🇾 Uruguai está cada vez mais perto de legalizar a eutanásia. (El Economista)

🇨🇴 Governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional (ELN) anunciaram a retomada das negociações de paz. (Twitter – Gustavo Petro

🇧🇴 Na Bolívia, partido MAS, de Evo Morales e do presidente Luis Arce, está rachada e já há acusações de traição. (El Deber)

🇵🇪 Rafale López Aliaga, o “Bolsonaro peruano” é o novo prefeito de Lima, a capital do país. (Bloomberg Linea)

🇻🇪 Brasil se abstém na OEA em revogação de Guaidó no órgão e texto de apoio à Ucrânia. (Folha de S.Paulo)

🇲🇽 “Tenho medo que me machuquem”: e-mails do Exército mexicano revelam dezenas de abusos sexuais na instituição. (El País)

🇬🇹 Na Guatemala, ex-candidato presidencial Manuel Baldizón, é preso após a Justiça dos EUA cumprir uma ordem de extradição. (Prensa Libre)

🇭🇳 Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado hondurenho pelo assassinato de Herminio Deras García, líder do Partido Comunista, professor e conhecida liderança sindical. (El Heraldo)

🇺🇸 Biden anuncia perdão a condenados por posse de maconha nos EUA. (BOL)

🇦🇹 Alexander Van der Bellen é reeleito presidente da Áustria segundo boca de urna. (Yahoo Notícias)

🇺🇦 Tenente brasileiro conta como foi lutar na Ucrânia: ‘Não tinha uma noite que eu ia deitar sem medo’ (g1)

🇷🇺 Quem é o general Sergey Surovikin, o novo comandante militar da guerra.
(Al Jazeera)

🇮🇷 Protestos no Irã: o que exigem as manifestantes que permanecem nas ruas do país. (UOL)

🇮🇷  Organização diz que repressão matou 19 crianças no Irã; TV estatal é hackeada em protesto. (Folha de S.Paulo)

🇵🇸 ONU denuncia que Israel matou pelo menos 100 palestinos em 2022. (TeleSUR)

🇰🇵 Por que a Coreia do Norte está disparando tantos mísseis. Aumento de lançamento de mísseis norte-coreanos levantou temores de líderes globais sobre retorno de testes nucleares. (Veja)

🇰🇵 Veja as imagens do mísseis disparados pela Coreia do Norte. (NK News)

🇹🇭 A única sobrevivente do massacre de 24 crianças na Tailândia: ‘Ela não tinha ideia do que havia ocorrido’. (g1)

🇩🇯 Sete soldados do Djibuti são mortos em ataque de grupo armado. (Al Jazeera)

#MandaDicas

Christian Lynch: para Bolsonaro, perder para Lula é deixar de ser escolhido de Deus. O populismo radical não é um médico que quer curar a doença que a democracia enfrenta, é um parasita que explora a fraqueza da doente pra se multiplicar, escreve Christian Lynch, coautor de “O Populismo Reacionário”. O livro disseca o populismo radical de direita, de Trump e Bolsonaro, e aponta que eles promovem uma cruzada contra todos que sejam vistos como inimigos do “povo verdadeiro” por não se submeter ao messias. Professor de pensamento político brasileiro na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Lynch discute neste episódio o imaginário e os métodos de ação do presidente e analisa a conjuntura eleitoral do país. O pesquisador afirma que Lula permanece o favorito da disputa e que, embora pareça certo que Bolsonaro vá contestar os resultados das eleições, ele e seus apoiadores têm menos força para instaurar o caos que se costuma imaginar. (Texto – Ilustríssima Conversa)
Dahmer: Um Canibal Americano. Nova minissérie de Ryan Murphy, acompanha a trajetória do infame serial killer Jeffrey Dahmer (Evan Peters). A produção explora a juventude do assassino até sua vida adulta e traz um retrato complexo da mente por trás do monstro que tirou a vida de 17 homens e meninos. Nascido na cidade de Milwaukee, Dahmer aterrorizou o estado de Wisconsin na década de 1980. Além dos brutais assassinatos, Jeffrey também cometia violência sexual e tortura contra sua vítimas. Seus crimes hediondos o tornaram um dos serial killers mais conhecidos e temidos dos Estados Unidos. Mesmo sua vizinha, Glenda Cleveland (Niecy Nash), tentando de várias maneiras denunciar o comportamento suspeito de Dahmer durante anos, a polícia a ignorou, facilitando os atos do serial killer. Tendo como alvo principalmente homens gays negros, Dahmer saiu impune por anos pelo simples fato das autoridades ignorarem o desaparecimento da vítimas. (Texto – Adoro Cinema)
O homem invisível. O filme conta a história de Cecilia (Elisabeth Moss) que tenta sobreviver e se desvencilhar de um namoro abusivo. Cheio de gatilhos, muito bem gravado e com um clima tenso do começo ao fim, o filme vai mostrando como o abuso pode mexer com a mente das mulheres e como as pessoas passam pano para os relacionamentos tóxicos. Baita filme que vale demais!

Leituras complementares

Política nacional

Lula depende de abstenção menor e de parcela de votos dos derrotados para vencer. (MSN)

Como o 2º turno força Lula a firmar compromissos à direita. (Nexo)

Lula ganha em 8 das 10 cidades que mais perderam empregos. (Folha de S.Paulo)

Datafolha: combate à corrupção, direitos trabalhistas e democracia têm peso importante na decisão de voto. (g1)

PT identifica rede articulada de criação fake news com 34 perfis e vai ao TSE cobrar ação no Twitter. (g1)

Centrão colhe os votos do orçamento secreto. Bolada de 6 bilhões em emendas de relator beneficiou pelo menos 140 deputados reeleitos pelo bloco de direita aliado a Bolsonaro na Câmara. (revista piauí)

No Pantanal, boiadeiro pró-Lula é boicotado por fazendeiros: ‘cortamos o sustento dele’. (Estadão)

Pais acusam Bolsonaro de usar vídeo com a filha deles para fazer campanha sem autorização. (Metrópoles)

MST elege sete parlamentares e passa o MBL na Câmara e em assembleias estaduais. (O Globo)

Mais ideológica, bancada evangélica tem 20% da Câmara, mas não atinge meta. (UOL)

Bancada LGBT+ estreia no Câmara; a da bala cresce e a da educação diminui. (UOL)

Brasil tem Câmara mais velha e com menos mulheres do que a maioria dos países, mostra levantamento. g1)

Bolsonaristas ajudam PL a crescer, mas veteranos do centrão são maioria na bancada. (Folha de S.Paulo)

Ressaca dos ressentidos. o que o fortalecimento do bolsonarismo e da extrema-direita nos diz sobre o inconsciente coletivo do Brasil dos anos 2020? (Andre Alves)

Centrão bolsonarista pressiona, mas Waguinho, um dos maiores cabos eleitorais do RJ, fecha com Lula. (g1)

Para superar limitações da cláusula, Novo quer formar bloco. (Poder360)

PT discute culpa por estratégia de campanha em SP e aponta dedo para Haddad. (UOL)

Mercado, tecnologia e inovação

Brasil é o terceiro país com mais pets; setor fatura R$ 52 bilhões. (Forbes)

Quem é a Geração Z que está no Twitter? Estudo feito pela empresa identifica os grupos que concentram maior parte das conversas na plataforma e principais hábitos do grupo. (Meio&Mensagem)

O Instagram tentou ser como o TikTok. Agora o TikTok quer ser como o Instagram. (Tubefilter)

A mais recente inovação do Instagram: mais anúncios. (BGR)

A garrafa de água inteligente da Gatorade usa a transpiração para medir quando você precisa se hidratar. (Engadget)

Pra quem você vai deixar sua ‘herança digital’? (Valor Investe)

Na reta final do 1º turno, direta no Twitter ficou focada no Judiciário. (Núcleo Jornalismo)

Sociedade

Forças Armadas: gasto com pensões e militares inativos cresce R$ 10,8 bi em 5 anos. (Metrópoles)

Usar dentadura é marcador social no Brasil, país que exporta dentistas. (UOL)

Economia

Bolsa brasileira bate recorde de IPOs em 2021; veja as ações que mais valorizaram. (Forbes)

Comunicação

Ataques contra a imprensa persistiram até o dia da votação em 1o turno.
(Repórteres Sem Fronteira)

Eleição de desinformadores acende alerta sobre a checagem de fatos. (UOL)

Evitar notícias é uma questão jornalística? (objETHOS)

Institutos de pesquisa precisarão rever metodologias. (BBC Brasil)

The Economist declara apoio em Lula. (Twitter)

Meio ambiente

Ataques contra a imprensa persistiram até o dia da votação em 1o turno.
(Repórteres Sem Fronteira)

Eleição de desinformadores acende alerta sobre a checagem de fatos. (UOL)

Evitar notícias é uma questão jornalística? (objETHOS)

Institutos de pesquisa precisarão rever metodologias. (BBC Brasil)

The Economist declara apoio em Lula. (Twitter)

Segurança pública

Bolsonaro destruiu política de segurança pública, diz única policial de esquerda da Câmara. (Ponte Jornalismo)

Saúde

Covid-19 está ligada a distúrbios cerebrais até dois anos após a infecção. (Axios)

#FotosDaSemana

Foto – Ricardo Stuckert
Foto da Suprema Corte dos Estados Unidos com Ketanji Brown Jackson (em pé e a última da direita), a primeira negra a assumir um cargo na Corte. (Foto –  Photo: J. Scott Applewhite/AP)

Reflexão da Semana

#TabelasDaSemana

#GráficosDaSemana

via Mariana Hallal
A democracia no Brasil tá realmente se deteriorando no governo Bolsonaro? O projeto Varieties of Democracy analisa a situação dos regimes democráticos em vários países ao longo dos anos. Isso é o que o projeto diz sobre o Brasil:

1 – Até que ponto o país alcança o ideal da democracia igualitária, onde as pessoas possuem liberdades individuais e podem acessar o poder de maneira igualitária)? Escala de 0 (baixo) a 1 (alto). Brasil caiu de 0.6 para 0.4 desde o impeachment

2 – Existe liberdade de expressão cultural e acadêmica? Brasil caiu de 4 (não há repressão nenhuma) para 2 (há fortes críticas por parte do governo e algum grau de repressão institucional). E estamos a caminho do 1 (fortes críticas + forte repressão).

3 – Censura midiática. Saímos de 4 (não há nenhuma censura) para 2 (há tentativas pontuais de censurar a mídia em relação a temas sensíveis). E se organizar direitinho daqui a pouco a gente alcança o 1 (tentativas de censura são indiretas, mas rotineiras).

via Pedro Rossi
A gestão Paulo Guedes foi um desastre e a pandemia não é desculpa. Nos últimos 4 anos o Brasil é um dos países que menos cresceu no mundo, a taxa média de crescimento é menor do que qualquer agrupamento de países (média mundial, OCDE, G7, desenvolvidos, em desenvolvimento, etc).

via Bruno Carazza
Uma medida do quanto o Congresso está se tornando mais conservador: o número de deputados federais ligados a igrejas e a forças de segurança pública saltou de 23 em 1998 para 33 em 2002, 16 em 2006, 27 em 2010, 35 em 2014 e 52 em 2018. Agora serão 60. É verdade que nem todo evangélico ou militar é de direita, conservador ou bolsonarista. Mas a análise da composição partidária dos novos deputados indica que a maioria dos líderes religiosos ou militares eleitos está na base de Bolsonaro. Dos 60 eleitos, só 4 são de esquerda.

#MapasDaSemana

via Tasso Azevedo. 
No 1º turno, Bolsonaro venceu as eleições em 265 cidades na Amazônia que respondem por 70% da área desmatada entre 1985-2021. Lula venceu em 499 que respondem por 30% do desmatamento. Onde Bolsonaro venceu a perda média de vegetação nativa foi 19,9% da área municipal, onde Lula venceu a perda média foi de 6,3%.

via Bruno Carazza
Este mapa mostra porque Bolsonaro precisa tanto de Zema (MG), Cláudio Castro (RJ) e Ratinho Jr (PT), bem como os candidatos Tarcísio de Freitas (SP), Onyx Lorenzzoni (RS) e Jorginho Mello (SC) nas disputas pelo segundo turno. Boa parte do Centro-Sul puniu Bolsonaro no 1º turno.

#DesesperoDaSemana

Imagem postada no Twitter por @jdornelles. Segundo ele, são panfletos que estão sendo distribuídos por evangélicos em Marabá, no Pará