Quando nasce uma mãe

Quando uma mulher está grávida, o que ela mais ouve são trocadilhos com o momento do nascimento: “Nasce uma mãe, nasce uma culpa”, “Nasce uma mãe, nasce uma olheira”, Nasce uma mãe, nasce o verdadeiro amor incondicional” e assim vai! Eu me dou ao direito de ter meu próprio trocadilho:

“Nasce uma mãe, nasce um blog”.

Basta perder 5 minutos no Instagram que você vai ver o quanto de gente fala sobre maternidade. E o que eu observo são duas vertentes clássicas: Uma que se faz de mãe perfeita, a que amamentou sem nenhuma intercorrência, que o filho só se alimenta de legumes e verduras orgânicos, nunca fez uma birra e que dorme a noite completa desde o primeiro mês. Uma mãe maquiada e de bom humor 24h por dia, que acorda às seis da matina e já prepara o pão de queijo feito em casa fresquinho pro café da manhã. Atleta, vai para a academia todo dia e, pasme, estava com a barriga chapada no décimo dia pós parto. Ela trabalha, é empresária, independente, muito bem sucedida e a vida conjugal é maravilhosa, melhor impossível, obrigada!

E do outro lado estão as mães radicais! As que usam o slogan de “maternidade real” mas que sempre puxam isso para o lado ruim! É foto da mãe com fralda geriátrica devido ao sangramento pós-parto logo no terceiro dia de puerpério. Reclama que o filho não dorme, não para de atormentar! Resolve (ou não) tudo no grito, na ameaça, no tapa. Odeia cozinhar, e não vê importância em uma alimentação balanceada pro filho, isso é tudo “mimimi”. Não tem motivação nenhuma de trabalhar ou praticar algum auto cuidado. Por consequência, a vida pessoal e conjugal tá péssima, mas é assim mesmo, não consegue nem quer fazer nada pra melhorar. Não vê alegria em brincar, assistir desenho, cuidar de ninguém ao seu redor, nem de si mesma!

Não sei vocês mas eu sentia sentimentos ruins ao acompanhar esses dois tipos de mães: a primeira me causava (e ainda causa) ansiedade. Será que vou ser tão boa quanto ela? Será que vou conseguir amamentar? Como vou ter dinheiro pra comprar só orgânicos pro meu filho? Ele vai ter quarto decorado pela arquiteta mais famosa de São Paulo? E como que eu faço meu filho dormir a noite toda logo no primeiro mês? Será que conseguirei ser essa mãe modelo, perfeita, super heroína? Será que ela realmente existe?

A segunda mãe me causa angústia. Num primeiro momento eu só pensava: “Onde fui amarrar meu bode?”. Vinha o medo da depressão, a ansiedade pelo pós parto, pelo sofrimento, pelas noites sem dormir, pelos choros intermináveis. Eu ia acabar me separando do meu marido no primeiro ano do bebê? Veja bem, meu bebê nem havia nascido ainda é minha cabeça já estava desse jeito! Alô saúde mental, cadê você?

Minha interpretação disso é o seguinte: As mães não se sentem representadas em nenhum desses esteriótipos. Será que só temos esses extremos para nos encaixar? E quando o bebê nasce e você percebe que essas duas mães coabitam na sua maternidade? E podem aparecer várias vezes, em formas alternadas, no mesmo dia? Isso, somado ao isolamento materno nos faz buscar (ou não, e é aí que mora o perigo) por ajuda! Seja profissional, por pessoas próximas que estão na mesma fase de vida, ou mesmo num diário, que nos tempos atuais, chamamos de Instagram.

Aí você vem e me pergunta: “Qual sua ideia então?”, “O que é que você tá fazendo escrevendo no Instagram, fazendo vídeo e agora, escrevendo essa coluna”?

Simples! Quero te ajudar, e me ajudar, a deixar a maternidade leve. Sim, leve! Acredite, ela pode ser, só temos que achar o equilíbrio. Fácil? Claro que não! Igual pra todos? Menos ainda! Mas temos que achar nossas prioridades (que são mutáveis com o passar dos dias, meses e anos) e deixar alguns pratinhos do nosso malabarismo rodando, alguns meio “capengas” e alguns no chão por um tempo, afinal, é a vida. Tá tudo bem trabalhar mais durante um mês. Muitas reuniões, projetos, estudos, cursos. Enquanto isso seu filho jantou pizza quase todos os finais de semana e macarrão durante a semana. Tá tudo bem você fazer uma sopa de legumes pra janta de domingo para tirar um pouco do peso da consciência. Tá tudo bem você largar um pouco o WhattsApp num final de semana, numa viagem, e curtir a sua família 100%. Acredite, você vai voltar e ninguém vai ter morrido sem você. Muito menos você terá sido substituída. Tá tudo bem um dia você meditar e decidir fazer disciplina positiva com seu filho e no outro dia você ameaçar jogar todos os brinquedos no lixo caso ele não guarde em 1…2… Filho, vou falar o 3! Tá tudo bem você ir para um parque num domingo as sete horas da manhã e no outro domingo ligar desenho pro filho pra você conseguir dormir mais uns minutinhos (quem nunca acordou assustada achando que dormiu muito e a criança já morreu? Seria trágico se não fosse cômico).

Vamos tirar essa ideia de “Nasce uma mãe, nasce uma culpa?” Vamos trocar experiências e nos apoiarmos mais nessa jornada que, se tudo correr como planejado, será para o resto da nossa vida? Vamos ser mães leves, com objetivo puro e simples de criarmos filhos, da melhor maneira possível, dentro da nossa possibilidade? Acredite, somos as melhores mães que nossos filhos poderiam ter! Estaremos juntas nessa.